quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O primeiro beijo





Eu ainda era jovem. No auge dos meus 12 anos, e ainda não conhecia a ternura de um beijo. O beijo ainda era para mim um desconhecido. Sabia que era bom. Muito bom. Só podia ser... Pelo jeito que os casais apaixonados se olhavam ao se beijarem... Todos os que via a beijar, faziam uma cara de tamanho contentamento, que para mim, tristeza grande era não saber que sensação que dava beijar.
Infelizmente, parecia mais difícil do que aparentava. Minhas amigas me diziam que eu poderia usar uma laranja ou uma pedra de gelo. Mas, para mim, aquilo carecia de uma experiência mais real.
Por mais que usasse gelos e laranjas, nada parecia dar certo. Não havia aquela sensação de revirar olhos, de felicidade plena como via estampado nos rostos daqueles que via beijar. Parecia que no beijo, existia algo mais. Algo mais que boca, algo mais que tudo que estava aparente.
A única coisa que poderia fazer era praticar de alguma forma, com alguém. Mas quem? Gostava de um garoto... Ele morava na mesma rua que eu. Mas não podia chegar para ele e dizer:
- Me ensina a beijar!
Ou pior ainda:
- Gosto muito de você!
E tascar um beijo. Porque como não sabia beijar eu poderia passar por uma situação bem constrangedora. Não poderia me arriscar em beijar alguém de quem gostava tanto e errar (se é que existe beijo errado). Sei lá não iria suportar olhar para o rosto dele novamente, se caso o atacasse e o beijasse, a força ou não. O que mais me preocupava era o fato de eu não saber beijar e fazer papel de boba.
Precisava arranjar uma forma de experimentar, sem ser com ele. Pra quando eu fosse beijá-lo, já ir aprendida, sabida e entendida. Não poderia jamais errar na primeira oportunidade de beijá-lo. Então tive uma idéia. Poderia aprender com alguma das minhas amigas. Por que não? Muitas delas já sabiam beijar. E com certeza, não haveria problema algum.
Fiquei pensando, tentando criar coragem. Eu nunca havia visto uma mulher beijar outra. Na minha mente adolescente isso não poderia ser errado. Afinal minha mente não havia sido envolvida por pensamentos preconceituosos quanto às mulheres que gostam de outras iguais a ela.
Para mim, não seria uma relação que envolvesse sentimentos. Seria um relacionamento de professora e aluna. Mas neste caso, não seria o português ou a matemática. Não seria teoria, seria prática. Afinal minhas amigas já haviam tentado me transmitir a parte teórica, quando mandaram que eu treinasse com a laranja e com o gelo.
Criei coragem e convidei uma das minhas amigas mais íntimas. Era a Vera. Minha melhor amiga. Com certeza, ela não se negaria. Mas, na verdade, como ela era mais velha do que eu, pelo menos 2 anos. E já era mais entendida da vida. Ela estranhou meu pedido. Eu perguntei se ela sabia beijar. Ela respondeu que sim. Então pedi pra ela me ensinar. Ela disse que não poderia. Porque era algo que a gente deveria fazer com alguém do sexo oposto. E não com alguém do mesmo sexo.
Só que não sou muito fácil de receber um não. Insisti. Ela cedeu.
A gente, então, foi para o meu quarto. Não havia ninguém em casa. Eu encostei a porta. Afinal, não queria que ninguém presenciasse a minha aula de beijo. Ficamos um momento paradas, olhando uma para o rosto da outra. Sem saber ao certo o que fazer. Eu mais ainda, não sabia o que fazer. Afinal, era o meu primeiro beijo. Então, ela foi dizendo quase que sussurrando que primeiro a gente precisava se abraçar. Então, nos abraçamos. Depois ela disse que eu deveria abrir a boca para que ela pudesse me beijar. Eu abri e ela iniciou com beijos com pequenos beijinhos pelo canto de minha boca. E comecei a sentir uma sensação estranha. Um calor começou a invadir meu corpo. Um estranho sentimento de prazer invadir meu ser.
Estava gostando. Minha calcinha começara a ficar molhada. Como se eu estivesse na iminência de urinar. E ficamos assim anos beijar. Quanto mais nos beijávamos mais vontade tinha de beijar.
Beijo parece que vicia. Porque não tinha a menor vontade parar. Mas qual não foi a surpresa. Minha mãe havia chegado mais cedo em casa. E tão entretida que estava, não havia nem ouvido o ranger da porta da entrada.Quando vi a minha mãe já havia adentrado o meu quarto. Pois estranhara tanto silencia na casa. Levei um susto. Pois a primeira coisa que ela fez foi gritar:
- Mas, que pouca vergonha é essa dentro da minha casa? O que vocês duas pensam que estão fazendo?
A minha mãe me puxou pela orelha e empurrou na cama. E pegou a minha amiga Vera pelo braço e colocou-a pra fora lá de casa. Votou pro quarto e eu ainda estava espantada com a reação da minha mãe. Pois não achava que estivesse fazendo nada de mais.
Aí já. Foi logo dizendo que não queria mais ver a Vera lá em casa. Que ela não era companhia pra mim. Que ela estava me colocando no mau caminho. Essas coisas de mãe.
Que pena. Meu primeiro beijo me fez perder minha melhor amiga. Mas uma coisa é certa. Foi inesquecível. Depois criei coragem de falar com o garoto que eu gostava de verdade. E de fato não errei no meu primeiro beijo com ele. Oficialmente, ficou sendo o dele meu primeiro beijo.
Mas sempre que via a Vera, lembrava daqueles momentos, minutos apenas, que estivemos no meu quarto. Vera sabia beijar como ninguém. Nunca pensei que pudesse gostar tanto do beijo de uma outra mulher.
Amanda Sobral

Pra não dizer que não falei das flores...

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